11.8.15

a consciência do meu poema
se reparte em seios acidentes anatômicos
e não possuo um só gesto ou pensamento
que beire o meticuloso
mas se me consolo
namoro a beleza fria de uma sala cirúrgica
onde já começo a pensar
deitarei eu como já deitara minha mãe
toda disponível a abrir as entranhas
porque eu mais uma vez
desejei
a poesia ainda não existia
eu coberta de muco ou o que fosse aquilo
sangue? a baba de deus?
chorava e choro nenhum era tão alegre
o nascimento de um filho
é tão glorioso
que o cuspe de um poema
digo cuspe porque se retorce na garganta
coça arranha e engata
engasgam-se todas as palavras
a linguagem-feto
da poesia

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