27.8.15

tu

Nunca as palavras haviam fugido de mim. até o dia em que tu cruzastes o meu caminho, fugiram as palavras, o fôlego. revoluções no estômago. Deixastes a loucura nos meus lábios, e despediu-se de mim.
Não há quem me pegue sem tirar um pedaço de mim, vou, assim, desestruturando-me. Ana sem braço, Ana sem perna, Ana sem olhos e, aos poucos, sem coração. Porque tudo aqui vai endurecendo e o vento não é tão bonito quando parado.

Querem me expulsar de mim. parece que todo mundo foi embora. mas eu nunca iria, porque eu ainda espero que tu voltes. talvez a saudade seja um grito abafado, que eu não consigo conter. tudo que eu sempre quis foi ver todas as cores dos teus olhos. sem saber que, ao vê-las, eu não acharia mais as cores do mundo tão bonitas.

15.8.15

Uma prece, pra que todos os dias sejam leves
e a gente acorde sempre assim
com o sol caindo sobre nós
e a vontade de ficar sob os lençóis,
que floresçam as cores
de um céu vibrante
e que a gente vibre
dance, cante,
e sorria todos os dias.

11.8.15

a consciência do meu poema
se reparte em seios acidentes anatômicos
e não possuo um só gesto ou pensamento
que beire o meticuloso
mas se me consolo
namoro a beleza fria de uma sala cirúrgica
onde já começo a pensar
deitarei eu como já deitara minha mãe
toda disponível a abrir as entranhas
porque eu mais uma vez
desejei
a poesia ainda não existia
eu coberta de muco ou o que fosse aquilo
sangue? a baba de deus?
chorava e choro nenhum era tão alegre
o nascimento de um filho
é tão glorioso
que o cuspe de um poema
digo cuspe porque se retorce na garganta
coça arranha e engata
engasgam-se todas as palavras
a linguagem-feto
da poesia

6.6.15

Olho nu

o desconhecido é um abismo
mas o desconhecido me fascina
a olho nu todos são desconhecidos
a olho nu pouco se enxerga
sentir é o que nos resta
pouco a pouco o desconhecido conquista
e num descuido, ou por força do desejo mergulha-se no abismo

daí em diante tudo é incerto
mas o que se deseja é que não acabe nunca.
cada toque
cada movimento é único
o desconhecido nunca é igual,
possuí-lo é surreal
causa palpitações
tremores
desperta algo adormecido

paixão.
nesse instante percebe-se:
não se pode possuir o desconhecido.
esse abismo é profundo demais
quem dirá que não é ele quem me possui?
entrego-me
de corpo e sangue,
o desconhecido é voraz
devora a carne, bebe o sangue,
se satisfaz.
é cruel
faz-me implorar
um pouco mais.
derrama-se em mim
e desaparece na escuridão.




4.6.15

Batem na minha porta
quem é?
o amor
de nariz gelado
nariz comprido
de tantas mentiras
o amor disfarçado
sedutor
me chama
faz chama
e eu pairando
pela sala gelada
descalça
eu sou livre
diz o amor
não me segura
abre a janela
traz um vinho
tira a roupa
e essa fantasia?
eu pergunto
se és livre
por que não mostras a face?
e esse nariz de palhaço?
e esse ar de adolescente embriagado?
eu quero te sentir
não quero me esconder
vamos pro quintal
na luz do dia
na luz da lua
quero beber você!
e quando acordares
quero ver tua face limpa
tuas olheiras
beijar seu hálito matinal
tomar café
e rir de coisas tolas
Depois podes ir embora
se queres
ou ficar mais um pouco
se convém
o que vale é a liberdade
de sentir
de querer bem
Foda-se o que dizem
de amor livre
putaria
ou casamento
palavras não exprimem sentimentos
isso mesmo que escrevo
não diz ao que veio
não representa o que sinto
só quero ser eu
carente
complexa
intensa
cansada
ou com tesão
Me sinto livre
transo quando quero
com quem quero
na primeira
ou na décima
ou não transo
E se transo me entrego
olho no olho
na alma
cheiro seu suvaco
lambo seu suor
e digo que te quero
E se encontro
esse tal amor livre
no dia seguinte
ou meses depois
abraço, sinto
quero saber se vai bem
afinal liberdade
é amor também.

6.4.15

tem gente que nasceu
pra esperar
pra ficar
confortávelmente

tem gente que nasceu
pra seguir
pra voar
constantemente
perigosamente

tem todo tipo de gente
contente
inocente
paciente
tem gente que se prende
e outras que se perdem de repente.